Hausbesuch. Quatro banquetes (Europa) -  Gonçalo M. Tavares

Hausbesuch. Quatro banquetes (Europa) (eBook)

Vier Festmahle / Cuatro banquetes / Quatre banquets / Quattro Banchetti / Vier banketten

(Autor)

Nicolas Ehler (Herausgeber)

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2017 | 1. Auflage
166 Seiten
Frohmann Verlag
978-3-947047-04-8 (ISBN)
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Durante sete meses, o projecto da iniciativa do Goethe-Institut levou dez autoras e autores conhecidos, vindos de Portugal, Espanha, França, Luxemburgo, Bélgica, Itália e Alemanha, para encontros com pessoas comuns. Surgiram assim dez miniaturas literárias: Gonçalo M. Tavares compreende o significado de línguas minoritárias e migração através da sua anfitriã luxemburguesa. Em Frankfurt, anda às voltas com a questão de saber o que ambicionam ao certo os habitantes locais. Über sieben Monate hinweg brachte das vom Goethe-Institut initiierte Projekt zehn bekannte Autorinnen und Autoren aus den Ländern Portugal, Spanien, Frankreich, Luxemburg, Belgien, Italien und Deutschland mit Privatleuten ins Gespräch. So sind zehn literarische Miniaturen entstanden: Gonçalo M. Tavares versteht bei seiner luxemburgischen Gastgeberin die Bedeutung von Minderheitensprachen und Migration. In Frankfurt treibt ihn die Frage um, wonach die dortigen Einwohner eigentlich genau streben. A lo largo de siete meses, el proyecto impulsado por el Goethe-Institut ha invitado a diez escritores reconocidos de Portugal, España, Francia, Luxemburgo, Bélgica, Italia y Alemania a encontrarse con ciudadanos de estos países. El resultado fueron diez miniaturas literarias: Gonçalo M. Tavares entendió, en casa de su anfitriona luxemburguesa, el significado de lengua minoritaria y migración. En Frankfurt, se obsesionó con la pregunta sobre cuál es exactamente la ambición de los habitantes locales. Pendant plus de sept mois, ce projet du Goethe-Institut a mis en contact dix écrivains connus, de sept pays différents (Allemagne, Belgique, Espagne, France, Italie, Luxembourg, Portugal) avec des personnes, dans l'intimité de leur foyer. Il revenait ensuite aux écrivains de raconter par l'écriture les expériences qu'ils avaient vécues. C'est ainsi que dix miniatures littéraires ont vu le jour : Gonçalo M. Tavares découvre chez son hôte luxembourgeoise l'importance de la migration et des langues des minorités. A Francfort, il est préoccupé par la question des savoir à quoi aspirent les habitants de la ville. Per sette mesi, il progetto avviato dal Goethe-Institut ha permesso a dieci autrici e autori noti - provenienti dal Portogallo, dalla Spagna, dalla Francia, dal Lussemburgo, dal Belgio, dall'Italia e dalla Germania - di incontrare e parlare con molti privati cittadini. Così si sono delineate dieci miniature letterarie: Gonçalo M. Tavares ha compreso il significato delle lingue delle minoranze e della migrazione in occasione della sua visita ai padroni di casa lussemburghesi. A Francoforte non vuole darsi pace prima di aver compreso quali siano i veri obiettivi degli abitanti di questa città. Dit project, een initiatief van het Goethe-Institut, bracht over een periode van zeven maanden tien bekende schrijfsters en schrijvers uit Portugal, Spanje, Frankrijk, Luxemburg, België, Italië en Duitsland met mensen in gesprek. Op die manier ontstonden tien literaire miniaturen: Gonçalo M. Tavares krijgt bij zijn Luxemburgse gastvrouw meer inzicht in de betekenis van minderheidstalen en migratie. In Frankfurt vraagt hij zich af waar de plaatselijke inwoners precies naar streven.

Gonçalo M. Tavares
Quatro banquetes
(Europa)


Banquete nº 1


Sento-me; ao meu lado, o hospitaleiro europeu. Como animal doméstico, mesmo com a sua expiração encostada ao meu braço desprotegidíssimo e civilizado, um tigre; não dos maiores, mas tigre, tigre das patas ao focinho; elemento que sempre conhecera como muito selvagem nos filmes, mas que, ali, garante-me de forma neutra o dono da casa, aquele, em particular, é mamífero individualmente pacifista.

 

– Só em grupo são perigosos – diz-me o dono da casa … – um pouco como os humanos – acrescenta, e ri-se, depois, às gargalhadas.

 

Pois sim, trata-se, a partir dali, de tentar descontrair, ou seja: o peso do rabo mais cabeça mais pernas e tronco deve pousar sobre a cadeira como se fruto de uma aterragem tranquilíssima de um elemento aéreo suportado por um balão larguíssimo e pachorrento, ou seja, descontrair, a nível muscular, é isso mesmo: deixar que todo o peso, cada um dos gramas, se entregue totalmente ao solo, mesmo que este seja um solo temporário e um pouco mais alto do que o nível do mar – uma cadeira. E ter medo, por outro lado, embora não suspenda a sempre companheira lei da gravidade, internamente, a nível bem íntimo e orgânico, pelo menos não deixa o corpo inteiro em repouso abandonado; ter medo é resistir, subir o que na queda ainda se permite, se bem que apenas de forma interna – manter erectos e atentos mais músculos do que os que se deixam cair no adormecimento. E, portanto, entre descontrair e controlar o pânico havia, naqueles instantes iniciais, ainda uma distância de maratona sensorial; sendo certo que o dono da casa fazia tudo para diminuir esse espaço, essa diferença. Em suma, eu estava tenso e com medo.

 

– Se não se sente à vontade com tigres, posso fechá-lo no quarto – disse-me ele, de forma atenciosa. E acrescentou –… no quarto das crianças.

 

E no momento em que o meu hospedeiro diz

No quarto das crianças

julgo adivinhar-lhe ali, no cantinho de uns lábios bem sóbrios e frankfurtianos, um músculo, um único, sarcástico ou talvez sádico, quem sabe? Como ler, interpretar, fazer uma exegese profunda de um músculo mínimo na ampla e bem agitada cidade de Frankfurt? O que pode um músculo? – poder-se-ia perguntar. O que diz um músculo?

 

Bem, mas sim: o dono da casa parecia basicamente colocar-me diante de uma decisão de imperador romano: quem ficará em perigo de vida? Quem salvo?

 

Porque era quase como se ele tivesse dito: se não se sente tranquilo com o meu dócil e quase agrícola tigre, senhor animal pacato e da terra, se não se sente descontraído fecho-o no quarto onde as crianças brincam; com o risco, que existe, já se sabe, sempre que juntamos tigres e crianças, de surgir uma incompreensível e injustificada discussão que termine mal para a infância e para a harmonia do mundo.

 

Sou ou não suficientemente distante da compaixão em relação a quem não conheço para colocar em risco as brincadeiras do dia de amanhã de belas crianças de Frankfurt? A minha resposta é yes, sí.

 

Agradeço, pois, e respondo simplesmente

Sim, pode ser

palavras cobertas por um véu, que basicamente parecem substituir um grito sincero que evito despejar em sala tão simpática de Frankfurt; o verdadeiro grito que, claro, dada a minha sobriedade não desvelo.

 

– Sim, quero comer sossegado e não quero ser comido!!! Por favor, ponha o tigre no quarto das crianças!! No meio da brincadeira das crianças! Quero relaxar!!

 

É evidente que em Frankfurt os tigres não são muito bem vistos; há um certo preconceito, digamos. No entanto, precisamente em Frankfurt como em grande parte das cidades europeias, o fato e a gravata, as boas maneiras, a detalhada educação, a tolerância, o modo como a frase somos todos iguais passou já há muito de ser aplicada aos homens para passar aos animais e às plantas

(os minerais ainda aguardam que o olhar civilizado os alcance)

os animais são todos iguais, temos de compreendê-los, as plantas –todas merecem água e sol, não sejamos injustos; enfim, a cidade estava debaixo desse novo oxigénio que em tempos mais lá para a frente se classificará certamente como

o oxigénio da segunda década do século XXI,

aquilo, então, a que atabalhoadamente, em cafés populares, se dá o nome de

politicamente correcto.

– No fundo, um tigre é um animal como os outros. Qual a diferença entre um tigre e o cão?

Sim, concordamos todos. Qual a diferença?

 

E, de facto, sim e sim: ali estamos, convidados para quem a delicadeza está acima dos Direitos do Homem, a tentar enviar toda a nossa atenção para um invulgar doce que mistura frutas, ananás, pêssego, um fruto vermelho – fruto comunista, como alguém murmurou entre sorrisos historicamente bem conscientes de datas relevantes,

se é vermelho é um bolo de 1917 – 1917, que tragédia, que bolo tão antigo!

e ainda chocolate derretido e umas pitadas de um creme gelatinoso, ali estamos, pois, tentando esquecer milénios de anos em que a sensação de gula sempre fora atropelada pela pesadíssima sensação primária de medo; ali estamos, então, tentando chamar todos os vestígios de gula (que delícia, chocolate e creme!) para cima da mesa de forma a esquecermos o bafo do tigre a menos de dois metros de nós

(porque, de facto, de um modo bem democrático, com voto de braço no ar, a comunidade educadíssima do banquete havia decidido que não, não se excluiria uma espécie animal em detrimento de outra. E se por ali se passeava um mini-cão que os donos designavam, como sintaxe, porquê não sei,

ali vai a sintaxe!, é tão pequenina!

se por ali se passeava um cão, sem restrições algumas, também o tigre tinha direito a não ser arrumado juntamente com as crianças no quarto; tinha direito, digamos, à convivência orgânica entre seres vivos adultos.)

– E como se chama o tigre? – alguém pergunta.

– Memória – responde o dono da casa.

Memória!

 

E sim, sem uma razão evidente, aquele nome assustava ainda mais do que os dentes claramente feitos para trincar convidados inadvertidos e distraidamente desarmados, dentes aptos para destroçar num golpe uma qualquer matéria que resista e que chame por socorro,

Memória!, que nome tão estranho, murmura um outro convidado, um pouco a medo, para não ferir susceptibilidades.

– Memória, vem cá! – chamava a dona da casa, mas ela não vinha.

 

– Sim, memória – explicou o dono de casa, como se desenhasse na mesa a óbvia constituição mecânica e interior de uma máquina de café ou de tirar fotocópias.

– O tigre é um animal – começou o dono da casa –…há uma série de estudos que o comprovam, que tem uma enormíssima memória; uma capacidade invulgar para não esquecer as necessidades do seu povo, se assim me posso exprimir – e riu-se.

– Como? – perguntei assustado.

 

O facto de o tigre ainda não ter comido não era, como se poderia pensar à primeira, um acto provocatório do dono da casa em relação a convidados pouco viajados à selva e mal habituados à convivência com felinos esgrouviados e imprevisíveis; era, simplesmente, explicou com alguma solenidade o nosso hospedeiro, era simplesmente um hábito firme, um hábito que, segundo os tratadores de felinos, era essencial para mostrar quem é o dono e quem é o animal doméstico: o dono tem de comer primeiro, é uma regra base da domesticação.

 

De qualquer maneira, não fui apenas eu a insistir que, sendo já quase onze da noite, talvez fosse um excelente momento para dar comida ao nosso irmão-tigre, deixem-me usar esta expressão, expressão que balançava entre o vocabulário de São Francisco e o de um programa humanista da manhã da televisão em que todos, em série, de cinco em cinco minutos, sofremos com um sujeito doentíssimo ou alvo de um acidente natural fulminante que nos é apresentado pela sedutora tela

irmão-tigre, sim, mas o facto é que muitos dos outros convidados haviam já há muito suspendido as conversas sobre Homero para, repetidamente, chamarem à atenção (como quem, sem querer incomodar, diz que ali, no canto da casa, está a começar um incêndio) à senhora dona de casa e ao seu marido, para esse acontecimento na negativa, que nos parecia afinal essencial, que era o facto de o tigre ainda não ter comido nada, nadíssima; o que, realmente, parecia cada vez mais uma injustiça, uma assimetria pouco gentil e educada.

 

Não se tratava de estarmos preocupados connosco, que preocupação pode ter um cidadão que já comeu e está numa cidade tranquila? Não, o que nos preocupava eram os outros, o Outro, o grande Outro que a filosofia, as leis e a gentileza sempre assinalaram e respeitaram. O Outro, neste caso, com maiúscula, era um terrível e bem constituído felino. E sim, ainda não havia comido nada, e já era tarde.

 

Que sei eu de tigres, e da forma mais científica de os integrar socialmente? Nada, a verdade é essa, nada sei.

 

O certo é que o tigre se comportou impecavelmente até ao fim da...

Erscheint lt. Verlag 15.2.2017
Sprache Dutch; Flemish
Themenwelt Sachbuch/Ratgeber
Reisen Reiseführer Europa
ISBN-10 3-947047-04-5 / 3947047045
ISBN-13 978-3-947047-04-8 / 9783947047048
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